terça-feira, 7 de abril de 2009

O Tambor Xamânico - I


"O som do tambor afina nosso coração com o coração da Mãe Terra, desperta a energia individual e coletiva em ritos e cerimônias, sendo esta energia o despertar de nosso curador interno (...) A batida está dentro de nós, no nosso coração, e trazer essa batida para fora no tambor é exteriorizar nossa emoção, cantar esse momento sagrado, tocar o sopro da alma, vibrando para fora do corpo, é a expressão da alquimia da vida." (Léo Artése)

Peço perdão por citar um trecho tão grande da citação do Léo Artése, na verdade, não importa o quanto sabemos a respeito do uso de instrumentos de poder. O tema acaba sempre tomado por um clima de poesia e prosa, a própria inspiração que flui do espírito do instrumento sussurra no fundo da alma o que e como expressar."Roubei" este trecho do Léo Artése justamente por haver nele uma inspiração poética, onde as mãos do autor são apenas um canal aberto de comunicação do Divino.

Nas minhas experiências em particular, ouço o tambor como um eco das batidas do meu próprio coração, como se ele tivesse o poder de sincronizar as batidas do meu coração com as batidas do coração da Mãe Terra. Sem a menor sombra de dúvida, o tambor facilita a conexão com as profundezas da mente e do espírito com os ritmos do corpo físico, veículo essencial para a ampliação da consciência, assim harmonizando o indivíduo com os ritmos planetários e cósmicos.

A velocidade de toque para uma jornada xamânica varia de 150 a 200 batidas por minuto. São os sons repetitivos e monótonos que permitem ao xamã alterar sua consciência. O antropólogo M. Harner relata uma pesquisa feita em laboratório que o tambor produz modificações no sistema nervoso, pois as batidas são de baixa frequência, predominando o nível de frequência do eletroencefalograma.

Há histórias nativas que relatam que o tambor é um presente enviado pela Águia, animal que transita entre os mundos. Ou seja, o tambor nos foi dado pela Águia como um interceptor para nos comunicarmos através da linguagem sagrada do espírito. Os xamãs ao usarem o tambor, chamam por espíritos ancestrais ou eles mesmos viajam entre outras dimensões atrav´s do estado alterado de consciência.

O tambor deve adquirir uma alma antes de ser utilizado. O xamã desperta e identifica o espírito que reside no tambor. E só então, o instrumento será consagrado, seja com banho de ervas, evocações, defumações, canções, preces, etc... também será honrado o espírito do animal e da árvore sacrificados na confecção do tambor, pois estes espíritos continuam vivos, e residem no tambor. Nas palavras do Xamã Lakota Wallace Black Elk: " Quando você reza com o tambor, quando os espíritos ouvem esse tambor que ecoa, nossa voz superior é desobstruída"

UM XAMÃ SIBERIANO TOCA SEU TAMBOR (Piers Vitebsky)

"Baixando a cabeça para o tambor, o xamã começa a cantar baixo, lenta e melancolicamente. Bate o tambor em vários locais com batidas calmas espaçadas. Fica-se com a impressão de que está a chamar alguém, a reunir os seus auxiliares e a invocá-los de uma longa distância. Por vezes, bate o tambor com força e profere algumas palavras - o que significa que um dos seus auxiliares acaba de chegar. Pouco a pouco, a canção torna-se mais alta e a baqueta do tambor bate com maior frequência. Isso significa que todos os espíritos ouviram o chamamento do seu senhor e aproximaram-se dele. Por fim, as batidas no tambor tornam-se muito fortes, a tal ponto que aprece que vai arrebentar. O xamã já não contempla o tambor, mas canta em plenos pulmões. Agora, todos os espíritos se reunem.
Sem se deter na canção, o xamã coloca a sua armadura peitoral. Fica em pé no local, curvando-se ligeiramente e batendo os pés. O tambor respondeu ás batidas da baqueta com os mais diversos sons, desde sonoras batidas, com um tímido e agudo metálico, até o mais delicado dos rufares, um zunido suave e contínuo, acompanhado por um ligeiro tinido. O xamã usou ainda o tambor como um quadro refletor de som, de tal modo que, na escuridão, parecia que a sua voz se deslocava de um canto para outro, de baixo para cima e de cima para baixo."

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